sábado, 12 de abril de 2014


Pedidos pelo email: fernando.strr@gmail.com  

 Preço: R$39,50. Desconto de 15% para estudantes (frete grátis para todo o Brasil)  

Livro organizado por Fernando A. Stratico e publicado pela Universidade Estadual de Londrina (fomento FAEPE) contém artigos de Ronaldo Alexandre de Oliveira, Sandra Parra Furlanete, Laís Marques, Raquel Palma, Lis Gonzales Peronti, Tatiane Cristina da Silva, Samara Azevedo de Souza, Fernanda Missiaggia Hernandes, Fabíola de Oliveira Antico de Freitas, Luciano Matricardi de Freitas Pinto, Vitória Beatriz de Aquino Andrade, Renata Andrea Santana de Lucia, Paulo T. Cucaroli Barducci, Lucas Iglessias, Caroline Rodovalho, Gabriella dos Reis Ferreira, além de textos do próprio organizador . O livro possui 260 páginas, e inclui 45 ilustrações a cores.


PERFORMANCE, OBJETO E IMAGEM - Escritos sobre os Rastros de uma Pesquisa. 


         


Sumário


1 – Objeto-Mundo – Imagens Performáticas
Performance, Identidade e Autoimagem - Fernando A. Stratico.
Objeto Cênico e o Sujeito – História, Memória e Inter-relações - Fernando A. Stratico.
A Escrita-Leitura do Teatro e a Construção de Identidades – Fernando A. Stratico.
Identidade, Jogo Cênico e o Objeto/Imagem – Fernando A. Stratico.
A Relação Corpo/Objeto e o Discurso Poético das Proposições de Lygia ClarkFernando A. Stratico.
Lygia Clark e a Imagem Performática de Baba Antropofágica – Fernando A. Stratico.
Os Sentidos Corporais e a Construção das Palavras – Sandra Parra Furlanete.
2 – Objeto e Imagem: Desdobramentos e Processos de Formação
A Dimensão Conectiva e Educadora da Obra de Beth Moysés – Ronaldo Alexandre de Oliveira.
Imagens da Escola e da Arte nos Processos de Ressignificação da Educação – Ronaldo Alexandre de Oliveira e Fernando A. Stratico.
Objeto, Teatro e Performance: uma Investigação Introdutória – Fernando A. Stratico.
Ainda sem Título – Laís Marques da Silva.
Murmúrios do Bojo – Raquel Palma.
Ave Chuva - Lis Gonzales Peronti.
Desesperos à parte…quinze maços de cigarro, oitenta e duas bitucas e ele ainda vai voltar – Tatiane da Silva.
Não podia ser em outro lugar? – Samara Azevedo de Souza
Aqui Jaz - Fernanda Missiaggia Hernandes.
Cuidado Frágil - Fabíola de Oliveira Antico de Freitas.
A Festa de Odete - Luciano Matricardi de Freitas Pinto.
Folhas - Vitória Beatriz de Aquino Andrade.
Invólucro - Renata Andrea Santana de Lucia.
Contágio Imagético: A Imagem Cênica e a Peste no Duplo Teatral de Antonin Artaud - Paulo Theodorico Cucaroli Barducci.
A Musculatura Afetiva: Investigações sobre Imagens do Teatro da Crueldade - Paulo Theodorico Cucaroli Barducci.
A Identidade e o Objeto/Imagem na Performance: um Panorama sobre Márcia X - Tatiane Cristina da Silva.
Construção de Imagens e Utilização de Objetos no Teatro da Morte - Luciano Matricardi de Freitas Pinto.

O Nôgaku e a Construção Cênica Através da Imagem - Lucas Iglessias.
Meyerhold - a Construção do Objeto e da Imagem Cênica - Caroline Rodovalho.
Um Jogo Entre Identidade, Objeto Cênico e Memória - Gabriella dos Reis Ferreira.











PREFÁCIO
No princípio, era o objeto - a pele de um bode, elemento sagrado, vestida durante o rito antigo por aquele que evocaria o deus Dionísio. No princípio, eram falos, objetos profanos a invocar o poder do sexo, dos fluidos e da seiva fecundadora. O vinho, objeto-líquido, fonte inebriante geradora de êxtases, também estava no princípio. Nesse princípio, era a imagem: feições de deuses, de sátiros, de titãs e ninfas. E tal qual a imagem, eram as elaborações terrenas, que recebendo vida pelos corpos dos humanos, passariam a ter vida por si mesmas. No início, era o colocar da máscara, o levantar o cálice, o bramir da espada, o bater dos címbalos; que era e ainda é, num interminável princípio, o teatro em seus primórdios, em seu modo de surgir do rito, de cada ação de magia. No princípio, era também o verbo, que se aliou ao pequeno universo das coisas, dando nomes e forjando a fala, criaturas constituídas por fonemas, encantórias e misteriosas, que ainda hoje – depois de tantos milênios – fazem-nos tocar nos objetos e nas imagens sem tocá-las; para cada uma destas coisas, há palavras mágicas pronunciáveis.
No princípio, assim como agora, havia pedras, facas, ânforas, crânios, anéis, fios, cântaros. Como no princípio, em ações espetaculares, todas as coisas se tornam sagradas. As coisas mais mundanas são lançadas - por esses mágicos videntes - a quem chamamos atores, atrizes e perfórmeres - ao estado sublime. Vasos de barro são elevados aos céus. Sangue e ossos são arrebatados por ações rotineiras, como o esfregar com água. Ações modestas fazem transcender pedaços de plástico, borracha, pregos e caixas de papelão. E assim, a cena concebe artefatos, imagens cênicas de reis e de demônios, rostos de fadas e de camponesas, figuras cujas ações se mesclam a objetos, recebendo toques de mãos e de corpos em estados que não são fáceis de descrever. E, embora percebida, essa presença das coisas, em sua união com o corpo em estado teatralizado (adereços, cenários, objetos de cena), não revela tão facilmente o seu poder e potência.
Esta é, talvez, uma energia latente, um sentido armazenado nas coisas; significados silenciosos a residirem nos objetos, habitantes das ações cênicas. Eles são construídos para serem mostrados ou manipulados (uma vez construí um pequeno crucifixo); erigidos como cenários ou, simplesmente trazidos da vida comum, tais objetos e imagens transmutam-se em arte. E ali parecem ganhar mais vida do que já têm. Vivem como estímulo, que desperta a fantasia, sendo, então, possível um leque virar uma ave, uma rosa virar um punhal; mas vivem também como sempre foram em seus lugares de origem: um aquário, um pneu, uma bacia de alumínio – carregados de histórias concisas e contidas, que revelam pessoas e suas andanças. Com eles o teatro fala, dialoga, joga, mas parece que somente a performance parece entender a sua língua. No espaço performativo, objetos e imagens falam e contam sua biografia, esbravejam, desnudam-se e explodem suas entranhas. Sabedora desta potência, uma vez que para ela interessa a realidade muito mais do que a ficção – a performace os acolhe – imagem/objeto/ação – de modo que, ao invés de ser uma mentira provocada, a ação performativa torna-se mais real que a realidade.
Vislumbrados com a energia e sentido presentes nas coisas de cena - desde seu longíquo princípio - desejamos investigar esta presença em processos performativos. Queríamos melhor entender tais processos e, possivelmente, contribuir para uma metodologia de ensino de teatro que se vinculasse, diretamente, ao objeto e à imagem, dando-lhes os devidos créditos e valor. Afinal, o teatro, a performance e as artes visuais apresentam – na contemporaneidade - uma conexão profunda com a realidade cotidiana. Sobretudo, queríamos reconhecer identidades e sujeitos envolvidos nos processos com objetos e imagens, e queríamos apontar para o quanto todo este processo de produção artística diz respeito à construção e manifestação de identidades.
Os textos deste livro foram produzidos ao longo de três anos e são frutos dos trabalhos realizados no projeto Identidade, Jogo Cênico e o Objeto/Imagem (Departamento de Música e Teatro- UEL, 2008-2011) e estão reunidos em duas partes. A primeira parte busca apresentar reflexões e análises sobre os processos artísticos que envolvem a presença do objeto e da imagem na performance. Alguns trabalhos de artistas são, nesta seção, abordados de modo a evidenciar aspectos importantes desta presença.  A segunda parte, embora também inclua análises de obras e considerações teóricas sobre o objeto e a imagem, apresenta uma ênfase maior sobre os processos de formação. Estes são desdobramentos das investigações precedentes, e, de certo modo, corporificam o objetivo de salientar aspectos educativos da relação com objetos e com imagens.
Entre os escritos, encontra-se um bom número de textos meus; alguns ampliados e revistos, sendo que sua maioria foi apresentada e publicada em congressos. Juntam-se a esta produção, textos em parceria ou de autoria do professor Dr. Ronaldo Alexandre de Oliveira – do Departamento de Arte Visual (UEL) - que tem desenvolvido pesquisa voltada para os processos de formação em arte, e sua relação com o objeto e o espaço; processos estes que o pesquisador intitula de metodologia da presença - uma metodologia do ensino de arte que inclui o sujeito e sua bagagem cultural no dia-a-dia da aprendizagem. Contamos também com um artigo da professora Ms. Sandra Parra Furlanete  - do Departamento de Música e Teatro (UEL) - que tem se dedicado à pesquisa em torno da integração entre voz e movimento no trabalho do ator. Entre os autores – colaboradores do projeto – estão também pesquisadores estudantes, hoje bacharéis em Artes Cênicas, que deixaram sua contribuição seja por meio da iniciação artística ou científica, ou como estudantes da disciplina de Interpretação IV, do Bacharelado em Artes Cênicas – UEL. Sua contribuição é valiosa para este trabalho por apresentar desdobramentos importantes relativos à pesquisa realizada no projeto, o que atesta a importância do vínculo entre a pesquisa e as disciplinas da graduação. A formação do estudante como pesquisador depende, sobretudo, de uma abordagem para o ensino como sendo pesquisa. Este é também um momento de manifestação de vozes coletivizadas, que nem sempre encontram espaço em publicações.
            Como todo princípio, este estudo evoca um poder gerador, uma expansão crescente, como aquela do rito antigo, que, esperamos, seja ampliada em outras visões, escavações, conversas e pesquisas.                                    

                                                                       Fernando A. Stratico